Cannabis e dor crônica

Uma das áreas em que a cannabis medicinal mais contribui para a qualidade de vida é a de pacientes com dores crônicas.

Um estudo realizado na Espanha entre um grupo de mulheres com fibromialgia mostra que a cannabis atuou sobre o componente mental e os sintomas, melhorando significativamente a qualidade de vida desta população.

Em outro estudo com pacientes que sofrem de dor crônica, quando a cannabis foi usada para melhorar a dor em geral, embora não tenha modificado de forma significativa a pontuação ela teve um efeito significativo na melhoria das relações sociais, familiares e no estado emocional dos pacientes. Contudo, o efeito mais marcante foi a satisfação com o tratamento.

Isso demonstra que muitas vezes a cannabis não vai atuar de forma direta naquela ou outra enfermidade, mas indiretamente acaba melhorando o contexto geral da doença, pelo fato de melhorar padrões emocionais, psicológicos e físicos. Essa é uma das razões pelas quais os pacientes demonstram preferir o tratamento com a cannabis aos medicamentos convencionais.

Igor Grant, diretor do Centro de Pesquisa de Cannabis medicinal da Universidade da Califórnia, fundado desde 2001, revelou em pesquisa recente que 1 em cada 8 pacientes com fibromialgia refere uso de cannabis para controle dos sintomas.

É importante observar que o impacto da cannabis medicinal na qualidade de vida não se resume apenas ao bem-estar pessoal e social do paciente; ele também contribui para melhorar a sua aderência ao tratamento. Outro impacto positivo é a sua contribuição para a redução da quantidade de medicamentos prescritos, com o enorme benefício da diminuição dos efeitos secundários resultantes dessas combinações.

Ainda há muito a ser aprendido a respeito dos efeitos da cannabis medicinal sobre a qualidade de vida relacionada à saúde. Este é um campo em que o trabalho só recentemente começou a ser divulgado, e nem todos os estudos são totalmente conclusivos.

A boa notícia é que esses estudos também indicam que a cannabis medicinal está contribuindo de forma clara para reduzir o uso de outros medicamentos. Ao trazer benefícios diretos sobre a saúde como um todo, ela permite que a doença seja tolerada com dignidade e que o tratamento aconteça muito além do controle dos sintomas. E isso é qualidade de vida.

Fontes:

  1. Swift W, Gates P, Dillon P. Survey of Australians using cannabis for medical purposes. Harm Reduct J 2005;2:18.
  2. Ware MA, Adams H, Guy GW. The medicinal use of cannabis in the UK: results of a nationwide survey. Int J Clin Pract 2005;59:291–5.
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  6. Haroutounian S1, Ratz Y, Ginosar Y, Furmanov K, Saifi F, Meidan R, Davidson E. 2016. The Effect of Medicinal Cannabis on Pain and Quality-of-Life Outcomes in Chronic Pain: A Prospective Open-label Study. Clin J Pain. 32(12):1036-1043.
  7. Já foram publicados numerosos estudos baseados em pesquisas que mostram uma redução no uso de medicamentos entre usuários de cannabis que utilizam dispensários americanos e canadenses. Por exemplo: Reinarman C, Nunberg H, Lanthier F, Heddleston T. 2011. Who are medical marijuana patients? Population characteristics from nine California assessment clinics. J Psychoactive Drugs. 43(2):128-35.